Revista Educação e Cultura Contemporânea, Vol. 13, No 30 (2016)

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Percepção de ensino e aprendizagem pelo povo Panará: para a alteridade nas políticas públicas educacionais

Adriana Werneck Regina

Resumo


O artigo teve enquanto objetivo compreender como a aprendizagem é concebida no ponto de vista do povo Panará, o que requisitou considerar, paralelamente, como ela está interconectada à noção de natureza. Este estudo está apoiado na mitologia e na inter-relação dela com o modo de sentir e agir concretizado na fluidez da vida comunitária. É compreendido que as práticas sociais e os significados que dão sentidos a elas são articulados. Panará é uma etnia indígena pertencente ao tronco lingüístico Jê, habitante da região Norte do Mato Grosso, região fronteiriça com o estado do Pará. As narrativas míticas enunciadas pelas pessoas Panará e os discursos que as mesmas realizam para esclarecê-las serão apresentados. Os mitos partilhados com o leitor trazem informações relacionadas às experiências de ensino e aprendizagem, identificando nelas os sujeitos envolvidos, os conteúdos, a circunstância de ocorrência e o método praticado. Conforme afirmam Eliade e Balandier, o mito e a ciência são formas de construção de saberes com legitimidade equivalente porque ambos estão orientados para dar um significado e um sentido às experiências vividas. A exposição das informações etnográficas é entremeada por interpretações que pretendem pouco a pouco tornar compreensíveis as noções de natureza e aprendizagem presentes na percepção de mundo no contexto cultural Panará. Por meio da fenomenologia de Merleau-Ponty e do interpretativismo de Geertz, é que se construiu a busca da compreensão de outra maneira de pensar, sentir, agir nos contextos percebidos como de ensinar e aprender saberes. A perspectiva interpretativa e fenomenológica presente neste empenho dissertativo é apoiada também pelo diálogo com as reflexões antropológicas de Eduardo Viveiro de Castro. Pelo estudo incidir num diferente contexto cultural, foi experimentada a abertura para outra espistemologia, colocando em risco a validade universal dos conceitos de aprendizagem e natureza nas sociedades industriais. Animais, espíritos e humanos são igualmente apreendidos como sujeitos, dotados de intencionalidades e promovem acesso a novos conhecimentos, provocando alteridades no modo de viver do povo Panará. No contexto das políticas públicas, o contato inter-étnico é uma oportunidade para expandir os pontos de vista daqueles que verdadeiramente experimentam a interação social e cultural.



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Revista Educação e Cultura Contemporânea 2004-2019 | Universidade Estácio de Sá
ISSN online: 2238-1279

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